História do FG
Dezoito anos de Fazendo Gênero
um pouco de história
O primeiro encontro (Fazendo Gênero - Seminário de Estudos sobre a Mulher) aconteceu de 30 de novembro a 2 de dezembro de 1994, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura. A ênfase desse primeiro encontro, de amplitude nacional, foi o gênero na Literatura, História, Psicanálise e Antropologia, enfocando também o feminismo contemporâneo. Esse evento possibilitou contatos, trocas de experiências e debates, além da publicação de uma primeira coletânea, intitulada Fazendo Gênero, organizada por uma comissão de pesquisadoras do Centro de Comunicação e Expressão, a qual reuniu os trabalhos apresentados por cerca de 100 pesquisadoras.
O segundo Fazendo Gênero - Um Encontro Interdisciplinar ocorreu nos dias 15 a 17 de maio de 1996, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC. Cerca de 400 pesquisadoras e pesquisadores de todo o Brasil reuniram-se nos Grupos de Trabalho e Mesas Redondas durante três dias de intensas discussões. Desse evento resultaram duas publicações: um número especial da Revista de Ciências Humanas (UFSC, CFH - v. 15, n. 21. Florianópolis: EDUFSC, 1997) e o livro Masculino, Feminino, Plural: o gênero na interdisciplinaridade, organizado por Joana Maria Pedro e Miriam Pillar Grossi, e publicado pela Editora Mulheres em 1998.
Dois anos depois, entre 13 e 15 de maio de 1998, o Centro de Ciências da Saúde da UFSC sediou o encontro Fazendo Gênero 3 - Gênero e Saúde. Mais uma vez, pesquisadoras da UFSC e de outros estados se reuniram para apresentar e debater suas pesquisas, consolidando o caráter interdisciplinar do evento. Este encontro produziu um número especial da Revista de Ciências da Saúde: Gênero e Saúde (UFSC, CCS - v. XVII, n. 1, jan/jun, Florianópolis: EdUFSC, 1998) e o livro Falas de Gênero, organizado por Alcione Leite da Silva, Mara Coelho de Souza Lago e Tânia Regina Oliveira Ramos, também publicado pela Editora Mulheres, em 1999.
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 4 - Cultura, Política e Sexualidade no Século XXI aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2000. Após três edições bienais do Fazendo Gênero, esse quarto encontro ampliou o âmbito de seu alcance, caracterizando-se como um encontro internacional, que teve como objetivo central realizar um balanço do século XX no campo dos estudos de gênero e feministas, bem como das perspectivas para o novo século. Participaram do encontro renomadas pesquisadoras internacionais, como a antropóloga Françoise Héritier (Laboratoire d'Anthropologie Sociale du College de France - Paris), a especialista em teoria literária e estudos culturais Jean Franco (Columbia University, Estados Unidos), a economista Carmen Diana Deere (University of Massachussets EstadosUnidos), a cientista social Sonia Alvarez (University of Califórnia at Santa Cruz, Estados Unidos), a historiadora uruguaia Graciela Sapriza (Universidad de la Republica, Montevidéo), a teórica literária argentina Nora Domingues (Universidade de Buenos Aires), bem como a cientista política e militante peruana Virgínia Vargas (Centro de la Mujer Peruana Flora Tristán - Lima, Peru), entre outras. O encontro resultou na publicação do livro Genealogias do silêncio: feminismo e gênero, organizado por Carmen Rial e Maria Juracy Toneli.
O quinto encontro - Encontro Internacional Fazendo Gênero 5 - Feminismo Como Política, foi realizado entre 8 a 11 de outubro de 2002, na UFSC, tendo como proposta um espaço de reflexão sobre a dupla direção das relações dos estudos feministas e de gênero com a política: de um lado, a centralidade do político na formação e na construção desse campo de estudos, em suas dimensões teóricas, temáticas e metodológicas; de outro lado, a importância e o papel fundamental do feminismo e das questões de gênero nas preocupações políticas contemporâneas. Nesse sentido, as três conferências e as diversas mesas redondas do encontro discutiram temas ligados a esse eixo geral: diferença, exclusão e conflito; políticas da subjetividade; as encruzilhadas do gênero e do feminismo; histórias do feminismo; identidades e políticas; corpo e política; políticas reprodutivas; sexualidade e política, entre outros. Pesquisadoras que atuam no Brasil e em universidades no exterior, com reconhecida contribuição na área, participaram do evento. Entre as convidadas teve as importantes presenças das pesquisadoras Ella Shohat (New York University, Estados Unidos); Monica Schpun (Università degli Studi di Milano); Françoise Thébaud (Université d'Avignon); Gabrielle Houbre (Université de Paris VII). Pesquisadoras/es de diversas regiões, universidades, centros de pesquisa e ONGs no Brasil também participaram do encontro, criando um diálogo produtivo entre academia e movimento social. Também foi organizado nesse encontro a primeira mostra audiovisual e a primeira mostra de fotografias, que teriam continuidade nos encontros seguintes. Como resultado dos Encontros Internacionais Fazendo Gênero 4 e 5, foi publicada uma coletânea de três volumes com trabalhos que se destacaram nos dois encontros, organizados respectivamente por Maria Regina Lisboa e Sônia Weidner Maluf, Gênero, cultura e poder; e por Cláudia Lima Costa e Simone Pereira Schmidt, Poéticas e políticas feministas.
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 6 - Saberes Globais/Fazeres locais. Fazeres Globais/Saberes Locais, realizado em maio de 2004, já contou com o apoio da recém criada Área de Concentração Estudos de Gênero do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC. O tema central abordou o cenário do século XXI e os desafios de ordens distintas, entre eles o da avaliação das perspectivas teóricas que orientaram e orientam tanto o fazer acadêmico como as intervenções na realidade social. Considerando-se as problemáticas colocadas em um quadro de globalização, guerra, aviltamento generalizado dos direitos sociais, culturais e políticos, quebra das expectativas quanto aos grandes projetos da modernidade, o encontro buscou contemplar temas que permitiram um aprofundamento da reflexão e do debate sobre os desafios globais, confrontando os estudos feministas e de gênero na confluência de vários tipos de saberes a partir de espaços cada vez mais híbridos. Neste evento foram lançadas as coletâneas dos melhores trabalhos apresentados nos eventos de 2000 e 2002. Estes livros, tais como os anteriores, foram publicados pela Editora Mulheres, sediada em Florianópolis, cuja editora e proprietária, Profa. Dra. Zahidé Lupinacci Muzart, tem se destacado pelo empenho na publicação e na divulgação de estudos de gênero, teorias feministas e literatura feminina.
De uma seleção dos trabalhos apresentados no Seminário Internacional Fazendo Gênero 6, resultou a publicação da coletânea Saberes e fazeres de gênero: entre o local e o global, organizado por Luzinete Simões Minella e Susana Bornéo Funck.
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 7: Gênero e Preconceitos realizou-se em agosto de 2006, também no Campus da UFSC, trazendo um aprofundamento das questões levantadas nos eventos anteriores, além das conferências, painéis e mesas redondas que exploraram os temas-chave do evento. Neste encontro, a apresentação de pôsteres pelos/as alunas/os de graduação, com muito boa receptividade em eventos anteriores, foi objeto da atribuição de prêmios aos melhores trabalhos, o que foi avaliado muito positivamente por várias/os participantes externas/os à comissão de organização do FG7. Também modificou-se o formato anterior de apresentação de comunicações orais, organizando-se Simpósios Temáticos, que agruparam as/os pesquisadores conforme temas específicos.
Ultrapassando as expectativas da comissão organizadora, foram inscritos 71 simpósios, dos quais, após análise de comissão acadêmica formada por pesquisadoras de diversas áreas de estudo, foram aceitos 55 ST, que resultaram na participação de 700 pesquisadoras e pesquisadores no evento. O evento adquiriu assim uma maior dimensão, com cerca de 3.000 inscrições, com temas que versaram sobre um amplo espectro, como gênero na literatura e na mídia, violência de gênero, sujeitos do feminismo, sexualidades, gênero e sexualidade nas práticas escolares, masculinidades, gênero e feminismo, estudos feministas e pós-coloniais, preconceitos e estereótipos na literatura e em outros discursos, aborto, parto e maternidade, bioética e direitos humanos, etnicidade e gênero, gênero e classe, etnia e gerações, gênero no texto visual, cibercultura e novas tecnologias de comunicação, segurança alimentar e meio ambiente, violência e segurança pública, memória, narrativas e trajetórias biográficas, corporalidade, consumo, mercado, turismo, migrações contemporâneas, entre tantos outros temas que compuseram as mesas redondas, as conferências e os simpósios temáticos.
Cabe registrar que o evento contou com a participação de pesquisadoras de inúmeras universidades do país, da América Latina e de outros países, garantindo o escopo internacional nas discussões.
Desse encontro resultou a publicação de duas coletâneas, com seleção de trabalhos apresentados: Leituras em rede: gênero e preconceito, organizada por Cristina Scheibe Wolff, Marlene de Fáveri, Tânia Regina Oliveira Ramos e Gênero em movimento: novos olhares, muitos lugares, organizada por Cristiani Bereta da Silva, Gláucia de Oliveira Assis e Rosane C. Kamita.
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 8: Corpo, Violência e Poder aconteceu na Universidade Federal de Santa Catarina entre os dias 25 e 28 de agosto de 2008. As relações de poder atravessam as relações de gênero em que também se constituem sujeitos, daí a escolha do tema para este Fazendo Gênero "Corpo, Violência e Poder". Tais temas não são novos no campo de estudos de gênero: ao contrário, desde a publicação de "O segundo sexo", de Simone de Beauvoir, por exemplo, temos uma problematização do dimorfismo sexual e das implicações sociais dele decorrentes. Também não são novas a temática das violências nas lutas de mulheres e de feministas no Brasil e, da mesma forma, os estudos acadêmicos estiverem sempre articulados às problematizações acerca das hierarquias e dos micro-poderes em que se processam as relações sociais. A "retomada" destes temas, sobretudo no âmbito das grandes conferências e das mesas-redondas que compuseram o seminário, deveu-se à especificidade da conjuntura nacional e internacional acerca das lutas a favor do aborto legal e/ou da descriminalização do aborto (no Brasil, no Uruguai, na Argentina, em Portugal); à politização do tema da violência conjugal, no caso do Brasil propiciada pela Lei Maria da Penha; aos processos de reconhecimento judicial de parcerias homossexuais; ao acirramento ou maior visibilidade da homofobia; aos dilemas éticos envolvidos nas decisões médicas e judiciais relacionadas às novas tecnologias de reprodução; aos paradoxos das novas diásporas internacionais envolvendo as questões de gênero; e à "feminização" da pobreza, entre tantos outros aspectos que estes temas têm suscitado na atualidade. Tivemos como palestrantes internacionais Maria Luisa Femenias (Argentina), Jules Falquet e Helena Hirata (França), Paola Bacchetta (EUA). Do encontro resultou também o livro Leituras de resistência: corpo, violência e poder (Vol I e II), organizado por Carmen Susana Tornquist, Clair Castilhos Coelho, Mara Coelho de Souza Lago, Teresa Kleba Lisboa, e publicado pela Editora Mulheres em 2009.
O Seminário Internacional Fazendo Gênero 9: Diásporas, Diversidades, Deslocamentos pretendeu dar seqüência a esta tradicional reunião de pesquisadoras/es do campo dos estudos de gênero e do feminismo reconhecidas/os na área, com pesquisadoras/es em formação.
O Fazendo Gênero 9, em 2010, teve seu foco central em temas que sugerem movimento tanto pela dispersão dos pessoas e culturas através de espaços geográficos quanto pelo desejo de realocações em espaços imaginados e pelo encontro com identidades plurais. Um evento que sugere assim três dimensões para se discutir algumas das mais significativas experiências dos sujeitos contemporâneos, em sua permanente demanda de cruzamento de fronteiras: Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, examinando criticamente os diferentes aspectos da circulação de pessoas, signos, coisas e capitais.
Diásporas, diversidades e deslocamentos são idéias centrais para a compreensão das injunções atuais do capitalismo global, marcado pela intensificação do movimento de pessoas (turistas, imigrantes, refugiados), de informação (especialmente através das diversas mídias eletrônicas), de bens (materiais e culturais, com um crescente avanço do mercado sobre dimensões que antes gozavam de relativa autonomia) e capitais (destacando-se nesse o financeiro). Para além de refletir processos de compreensão do espaço e do tempo, essas circulações trazem a tona novas relações entre o global e o local, diferenciações identitárias, que podem tanto afirmar identidades de agentes subalternos quanto levar a xenofobias e racismos.
Seria ilusório pensar que todos os bens, signos e pessoas circulam livremente. Enquanto alguns deslocamentos desenham um mundo sem fronteiras, com a mídia e as marcas multinacionais presentes em diferentes recantos do planeta, os Estados-nações fortalecem suas fronteiras geográficas e políticas, criando zonas militarizadas e, pior, permitindo zonas armadas. Fronteiras que determinam e separam o legal e ilegal, cidadão e clandestino, legalidade e ilegalidade.
O Fazendo Gênero 9 buscou abordar as Diásporas, diversidades e deslocamentos, o tema da mobilidade global contemporânea de pessoas, signos e bens, enfocando, especialmente, os desafios, lutas, e sofrimentos que perpassam muitas das experiências de indivíduos e grupos inseridos nesses fluxos. Numa perspectiva feminista, na qual estão presentes os ideais de igualdade, auto-determinação e dignidade.
Ministraram as conferências de abertura e de encerramento Trinh T. Minh-ha e Miguel Vale de Almeida, respectivamente.
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